Translate

sexta-feira, 12 de julho de 2013

MORTONAUTA - SETE CABEÇAS




Quinta-feira, 11 de julho de 2013.

Sete Cabeças

Por: gu1le
Para Lumyah e Raphael


Para se chegar do outro lado do espelho e acompanhar nobres cavaleiros, alvos arcanjos assassinos, fazer parte do exército ou tropas de guerreiros selvagens que combatem monstros; é preciso uma nave. É necessário um piloto para esta nave. Não pode ser qualquer piloto, tem que ser um Mortonauta. Tem que ser um Mortonauta, porque para se chegar ao mundo que você precisa, há de se atravessar a barreira da morte. Depois, é necessário cruzar o nada que ela é. Mortonauta piloto, guiará a nave onde você está em criogenia, por ermos descaminhos e inexistências onde nunca houve luz, nem dor, nem alegria, tristeza, movimento, paradeira até que arrancando-se dos braços do não ser por violenta descarga energética, ativada por genes recessivos, o piloto especial voltará à vida, apenas para pressionar pedais e apertar o botão que para a nave. Aí, você poderá desembarcar no mundo certo, no dia certo e na hora certa para dedicar-se a peleja junto com centenas de outros guerreiros.
Talvez você desembarque numa alta colina. Talvez esta colina esteja repleta de Madressilvas. Pode ser que do alto dela, você veja que apesar deste mundo ser lindo, está contaminado por algo. Você verá lá na frente, terra calcinada pelo fogo. Aves de rapina sobre campos repletos de corpos. Sentirá o fedor da matéria em decomposição. Ficará indignado ao constatar que este mundo puro limpo e justo, está sendo invadido por entidades e forças imundas. Sentirá o mesmo desejo incontrolável que o fez entrar na nave espacial do Mortonauta. Desejo de extirpar o mal. Bani-lo para os confins do universo. Pois se é necessário que ele exista, que vá existir bem longe da gente.
Nu e desarmado no alto da colina, você conhece este mundo, mas este mundo, não conhece você. Você desce a colina e caminha alguns quilômetros até chegar a áreas onde há apenas morte e destruição. Pode ser que mais a frente você cruze com outros viajantes. Por enquanto não. Vasculhando por entre cadáveres você monta sua roupa de combate. Botas, calças, poncho, manto, peitoral de aço, grevas para os braços e pernas, capacete, espada, escudo, lança, arco, aljava, pistolas, sinalizadores, óculos de visão noturna, tubos de oxigênio e um cavalo robusto que pasta serenamente ao lado do cadáver de seu proprietário. Lá no horizonte pode-se ver a luz das explosões e o rosnar sussurrante de uma guerra intensa que se propaga no vento.
Cavalgue. O cavalo não quer ir novamente para guerra. Açoite. O dia ainda mal começou. Aproveite. Ainda é de manhã. Apresse-se. O que lhe aguarda, está além do horizonte, e você sabe. É um monstro imenso, forte, poderoso e praticamente invulnerável. Ele vem de brumas místicas. Fendas do inferno. Um mago negro insano cavalga o monstro de imenso costado.
A besta varrerá multidões de armas em punho. Abocanhará anjos assassinos. Engolirá cavalos inteiros. Até a hora em que você chegar. Você saltará dentro da bocarra da cabeça mais próxima e com um longo punhal abrirá caminho sob a pele da garganta do monstro. Embaixo da pele da besta, metro a metro você se arrastará garganta abaixo até cruzar com uma artéria que leva ao coração. Entre nela. Respirando pelo tubo de oxigênio sem ver nada que não seja vermelho tudo é turbilhão. Você sabe que está chegando perto pela intensidade das batidas cardíacas que estão mais fortes. Você vai chegar no âmago da besta-fera. Ah, vai!
Quando desaguar no coração, sacará a espada e o fará em mil pedaços. A besta surpresa terá uma morte inesperada instantânea. O mago será linchado pela turba. Depois que a cabeça dele estiver espetada na lança, sua espada rasgará o couro grosso que existe por entre as imensas costelas da besta e você verá novamente a luz solar. Os exércitos em festa, não se aperceberão de você coberto de sangue da Hidra de Sete Cabeças. Nem liga. Você se põe cansado a caminhar. Para longe. Bem longe. Arrumar algum lugar para morar. Não voltará a colina. Esta viajem foi só de ida. O Mortonauta nunca vai voltar para lhe buscar. Mas quem liga para isto, quando se está num mundo perfeito imenso e sem fim?

The End

A Faca de Dois Gumes Assassina Suicida


Em um lugar além do tempo, dentro de uma rara estrela gigante vermelha, cuja qualidade é um intenso fogo de plasma em sua auréola, mas com o distante centro interno frio, existe um mundo que é a cópia da antiga terra. Há até mesmo um pequeno sol branco dentro deste sol e ele a ilumina. É terra anterior aos profetas. Terra que precedeu o dilúvio. A terra que abrigou o Éden e mais um milhão de maravilhas. A terra que estende-se longamente, até tocar o céu, abordando a Cidade de Prata que é chamada assim, por ser feita de pedras brancas, pura prata, energia de sonhos e magia divina.
Elas estão todas lá, as maravilhas, e esta é apenas uma de suas infindáveis histórias eternas.

A planície ou estepe chamada Éden, possui e ao mesmo tempo não possui um jardim. O rio Pison nasce lá e ainda rodeia toda a região de Havilá que sempre será rica em pedras preciosas. Mas o que não é dito em verso e prosa nos livros, é que a árvore mais importante do local; foi transferida junto com parte do jardim; para uma região limítrofe entre o paraíso e o deserto de Dudael da Cidade de Prata, que é árido e pedregoso. Lugar onde caídos estão enterrados.

A árvore do conhecimento do bem e do mal foi existir nesta fronteira. Lá se encontraram dois arcanjos guerreiros. Não havia Lilith que segundo dizem as más línguas; curtia infanticídio, feminismo e sexo por cima. Tampouco havia Eva, que foi na onda de mentirosos. E não tinha Adão, sem dúvida o mais tolo de todos; por dar ouvidos a qualquer um, não escutando os conselhos de seu eu interior, nem de seu Deus.

A árvore possui duas faces distintas por situar-se metade no jardim paradisíaco Éden e metade no inclemente deserto de Dudael. Assim sendo, uma parte da árvore do conhecimento do bem e do mal era seca e castigada enquanto outra, viçosa e verdejante. Os dois arcanjos que lá estão; também são diferentes pois pertencem a facções antagônicas. E esta, é a natureza do conhecimento pois, enquanto serve para prosperidade de tudo que existe na criação; se usado por motivos torpes torna-se destruição, caos, desespero e morte. Vira um inimigo da vida e de tudo que existe.

Lá estes dois seres discutem. Exaltam-se. Juram destruir um ao outro. Cruzam suas fronteiras e lutam com fúria violenta assassina. Mas não conseguem aniquilarem-se por mais que tentem. Também não conseguem morrer. Depois de longas batalhas, cobertos de ferimentos, braços quebrados, dentes trincados, olhos inchados e com os corpos furados a golpes de espada; voltam para seus lugares e descansam aos pés da árvore, enquanto se recuperam de seus ferimentos fatais. Quando melhoram um pouco, voltam a estabelecer um diálogo. Que sempre começa cortês mas, a medida que os ferimentos saram se torna ofensivo. E eles ficam novamente indignados com as atitudes certezas e crenças um do outro. Até que chega a hora em que as palavras faltam e acontece de uma ofensa grave ser dita; e eles novamente partem para o combate tentando com todas as forças exterminarem-se. O arcanjo de luz quebra os cornos do negro. O arcanjo negro esmigalha o quadril do iluminado. O iluminado fura um dos olhos do escuro. O Escuro vomita ácido corrosivo na face do Arcanjo alvo. O alvo castra o arcanjo imundo com as próprias mãos e assim o combate vai até estarem totalmente impossibilitados de ferirem-se. Uma trégua é estabelecida. Depois como sempre suas partes retornam para os pés da árvore.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Te Matarei para Sempre



Para Lumyah e Raphael

                                                  *****


Quando a noite vem e o calor se afasta um pouco, quando damos sorte; um vento fresco revolve a cidade. A brisa traz uma falsa sensação de alívio bem sei. Que seja. Preciso disto. Pelo menos isto. Aí a madrugada chega. Então ele acorda. Quando ele acorda, eu me acordo. Na escuridão do nosso quarto ele geme. De tristeza. As lágrimas vêm. Ele chora.

Ele chora e me abraça de noite, a noite inteira. De dia ele sorri. Ele sorri bem. Acho que quem está de fora, o percebe como uma pessoa feliz. Fora de série. Extraordinária.

Eu o amo. Amo intensamente. Irracionalmente. Geneticamente. Está nas minhas células eu sei.
Ele começou a mudar o mundo do seu jeito muito jovem. Muito jovem mesmo. Tinha sete anos. Mudou seu mundo com um copinho de plástico, acredita?

Ele vivia com os pais de favor na mansão de uma tia. Viúva e rica; ela os suportava. Eles em troca cuidavam de seu bem estar na medida do possível. Os pais passavam a maior parte do dia na rua, trabalhando em serviços mal remunerados e medíocres. Um trabalhava fora de manhã. Outro de tarde. O tempo passado na mansão era preenchido por atividades de manutenção. Meu chorão; perdia-se pelos jardins bem cuidados enquanto seus pais levavam uma vida tranqüila de servidão.

Um dia, ele pegou um copinho de plástico e pintou de preto com caneta de retroprojetor. Depois o abriu em copas como se fosse uma flor. Uma flor de oito pernas. Desta flor, fez uma aranha. Uma aranha com oito pétalas. Amarrou um fio transparente neste copinho. Esfregou fezes de gato no fundinho bem pretinho. Quando um dia, a tia descia a escadaria da mansão vitoriana, atirou nela esta aranha. Tamanho foi o susto, que ela despencou escada abaixo. Braços e pernas rolando em movimento. Bateu a perna que quebrou indo parar nas costas. Partiu o braço o baço e a coluna, nas quinas dos degraus; dando cada grito de gelar o sangue nas veias. A última coisa a ficar torcida, foi o pescoço; quando o corpo aterrizou no chão do hall que precede a sala de visitas. 

Tudo isto, com um copinho de plástico apenas.

Depois disto, já dono da mansão isto é, seus pais e por conseqüência ele; foi à vez de um filho do vizinho. Eles encontravam-se nas matas. Gostavam de piqueniques. Faziam-se de aventureiros. Diziam que eram piratas. Mas toda brincadeira cansa e garotos gostam de novidades. Ele brincando na lama do pântano, achou um dia um sapo enorme. Tinha oito anos meu chorão. Como seu amigo estava atrasado para as brincadeiras; decidiu brincar com o sapão.

Havia trazido um lanche numa cesta. Ao exercer seu domínio sobre o batráquio, foi atingido por um jorro de leite que o bicho expeliu pelas costas. Naquele instante, foi tomado por uma idéia genial. Arrastou o animal por uma das patas e amarrou-o em uma árvore. Cutucando-o com uma vara, tirou leite das costas dele pra encher uma garrafa, que guardou na cesta de piquenique. Depois, foi banhar no riacho. Logo o amigo de aventuras chegou. Ele já estava arrumado sem lama no corpo, talvez apenas um pouco atrás da orelhas. O corpo do bicho morto jazia no fundo de um poço.

Reinaram.

Como estava tarde. Brincara bastante. O amigo veio correndo devia estar com fome também. Nada melhor que um bom lanche. Serviu o amigo um sanduíche de pão com queijo e leite misturado com bastante achocolatado. Bastante mesmo. Abraçou o amigo disse adeus e foi embora. Nunca mais o viu. Morreu ao chegar à porta de casa. O amigo morreu. Nos braços da mãe. Garoto de sorte. A causa da morte ninguém nunca soube. Para os mais antigos o cheiro do cadáver; lembrava veneno de leite de sapo.

Aos doze anos meu amor, teve seu primeiro amor. A primeira namorada. Filha de uma empregada que trabalhava na casa. Ele passava o tempo todo lá. Casa sombria fechada. Seus pais não o deixavam mais ir a nenhum lugar. Um dia, estavam a brincar de namorar no quarto da matriarca. Ela usava as maquiagens chiques que o papai dava para mamãe usar. Ela apanhou um comprido lápis de olho novinho em folha. Aproximou-se do espelho para o olho decorar. 
Ele correu sobre a cama King Size, saltando sobre os ombros dela, fingindo querer abraçar. O espelho quebrou quando ela bateu forte a testa nele. Ele a chamou. Mandou ela se levantar, mas ela estava morta. O lápis enfiado bem fundo no cérebro, atravessou crânio e  globo ocular.

O tempo passou como sempre passa e sempre passará. Ele agora só ficava no quarto. Trancado no quarto. Isolado. Seus pais não o deixavam sair por nada. Tinha quinze anos. 

Fugiu uma noite, quando seu pai foi levar-lhe o jantar. Amarrou o cadarço de seus sapatos em uma sandália e laçou o pai para dentro da jaula. Não queria matar. Mas como o pai resistia; usou o cadarço de sapato para o pescoço dele apertar. Rapidamente asfixiado seu velho ficou; ele podia ter parado, mas não parou. Só parou, quando o coração mole papai parou.

Numa folha de papel, escreveu uma carta incriminadora e assinou usando o nome do velho. Era assim:

“Ando com medo de ir para casa. Minha mulher me trata mal. Me olha estranho. Não como nada que venha de suas mãos. Acho que ela me odeia. Tenho medo que me vá matar.”

Baseado nestas evidências e no testemunho do filho que chorava berrava e xingava a mãe, pelo assassinato do pai. A genitora ardeu na cadeira elétrica. Tudo por causa de uma folha de papel. 

Depois disto, passou quieto um bom tempo. Agora senhor do castelo, viajava bem longe para assim poder celebrar. E brincava e brincava. Brincava demais. Amava seus joguinhos. Brincar de matar. Joguinhos fatais.

Arrumou uma companheira. Uma companheira de metal. PT 380. A quadrada. Agora era divertido de verdade. Muito mais do que especial. Montava e desmontava-a com facilidade, sem pestanejar.

Um dia assistiu a um filme violento num cinema perdido em vasta cidade decadente. Decidiu tentar fazer o que assistiu no filme. 

Foi para o banheiro, desmontou a quadrada. Ia matar usando pistola 380 sem bala. Pegou a parte de cima do cano, a que se move; bloco de trancamento e segurou firme na mão, enquanto escondia-se no banheiro feminino imundo. Quando uma postretuta inocente entrou naquela pocilga para lavar a boca, ele a atacou com o bloco que possuía uma extremidade pontuda. Golpeou o pescoço o rosto e a cabeça dela com aquela ponta. A mulher de vida fácil era difícil. Uma batalhadora e deu um certo trabalho, mas perdeu muito sangue e acabou com a cabeça enfiada no fundo do vaso sanitário.

A vida era boa. Ele subiu no avião e de passaporte na mão; foi matar em outro lugar.

Um dia ele me conheceu. A única pessoa que mata mais que ele sou eu. Este é o meu esporte. Quero bater um recorde. Meu recorde. Ele não pode me vencer. Então não deixo ele matar. Dele tudo tomei. Para ele não fugir, suas mão e seus pés amputei. Sua língua eu cortei para ele não pode gritar. Passo os dias pelas ruas e ele com uma babá. E de noite ele chora e chora. O porquê não sei bem; deve ser por não mais poder matar.