Translate

segunda-feira, 27 de maio de 2013

A Última Sexta

A Última Sexta-Feira

Nenê, saiu do trabalho, entrou no carro e foi passear. Rodou lentamente pela cidade. Seguiu rumo aos setores em construção. Parou no bar da Vivi que estava às moscas. Pouco dinheiro na cidade, pensou. Mas Vivi estava lá, só isto, já fazia a viagem valer a pena. Vivi estava linda como sempre. Moreninha chocolate, tinha 19 anos. Tocava aquele estabelecimento desde os 16. Era ela, a mãe que passava o dia todo fora trabalhando, e três irmãs pequenas que cuidava, moravam em casa anexa, nos fundos do bar.

Nenê:

– Vivi, você hoje tá show, sua linda!
– Que isto, Nenê, tô toda suada. Este dia de hoje, tá dando pra fritar ovo no asfalto.
– Deixa de ser pão dura e liga os ventiladores. Você tem 4 um em cada canto do bar, pô.
– Hmmm... assim você me quebra. Mas em sua homenagem; vou ligar um pra gente se refrescar.

As pás metálicas, de um grande ventilador fixado na parede próxima deles; começou a girar.

Vivi, era uma menina simples, vestia-se de um jeito simples. Seu corpo era fenomenal. Vestia um shortinho jeans surrado que permitia que se visse as alças da calcinha e uma camiseta florida curtinha colada ao corpo que mostrava pedaço de seu sutien de cor diferente da calcinha.

– O que vai beber belo?
– Uma cerva trincando, se tiver. Se não, terei de partir pra outro lugar. Em lágrimas por te abandonar, é claro.

Vivi, olhou pra Nenê de rabo de olho. Deu as costas, abrindo o freezer das cervejas. Empinou a bundinha. Inclinando-se para apanhar as mais geladas, colocando-as sobre as mais quentes; quase mata Nenê de desejo. Vivi, foi abençoada com glúteos maravilhosos. Pernas longas e bem feitas. Seios empinados e rijos. Tudo isto, coberto por pelinhos descoloridos. Suada, cheirava a saúde. Cheiro de moça nova. Enlouquecedor.

Vivi colocou a cerva sobre o balcão, abriu e encheu o copo de Nenê, que suava frio e trincava os dentes. Olhou com seus grandes olhos amendoados para ele. Sorriu.

– Ah Nenê, você não tem jeito mesmo. Ainda pensando em me comer?
– Sempre. Não desisto nunca. E não é comer. Que palavra feia. É amar. Amar você. Enlouquecidamente, por pelo menos uns cinco dias ininterruptos.
– Affff Maria, tiozão... deste jeito você acabaria na cova. Seu coração não agüentaria e lá ficaria eu, com um cadáver super feliz; montado em cima de mim. Não, não. Pelo seu bem, isto nunca vai acontecer. Deixa este corpinho, pros garotos mais novinhos.

Nenê virou o copo de uma vez. Ela encheu de novo.

Agora Nenê a olhava de rabo de olho.

– Nenhum deles te merece. Vão te comer, te prender, te estapear e enche-la de filhos. Depois irão embora da cidade. Nunca mais irá vê-los. Isto você sabe, foi o que aconteceu com a Gracinha, sua mãe.

– Então Nenê, será que você não é meu pai?

Nenê emborcou mais um copo. Aquela conversa não estava indo bem.

– Vivi, assim como você, tua mãe nunca me deu bola pra mim. Se, ela tivesse me escolhido, hoje eu seria teu pai e, não um candidato a mergulhar nas delícias do teu corpo.

Vivi olha pra ele demoradamente.

– Eu não quero me meter em confusão, Nenê. Tenho medo.

– Medo do quê? Eu sou um cara do bem. Nunca iria botar você em confusão. Pelo contrário, fica comigo que eu te desejo. Eu invisto em você sem compromisso. Se quiser pode até namorar seus garotinhos que você sonha. Mas, usando anti-concepcional, né?

– Ah, Nenê, tô fora. Eu não sou banda não.

Foi, quando um ronco de motor acelerado assustou os dois. Uma caminhonete Ford Foker importada, vinha na direção do bar descontrolada, a mais de cem por hora. Parecia, que quem dirigia; encontrava-se ébrio ou em pânico.

O veículo, descontrolado atingiu o bar de Vivi na lateral esquerda varando a parede, espalhando tijolos e, lançando o ventilador de pás metálicas sobre o balcão do bar que interpunha-se entre eles. Se Nenê não abaixa, tinha perdido a cabeça.
Um homem cambaleante, sai da caminhonete. Ferido nos braços, peito e pescoço.

– Ela... ela... me mordeu! – Diz o motorista machucado.

Vivi e Nenê, ficam sem entender nada.

– Quem te mordeu cara? Você está bem? Você bebeu? – Pergunta Nenê.
– Chamem a polícia, os bombeiros, alguém – pede o motorista ferido – ela está no banco de trás do carro.

Nenê aproxima-se do Ford avariado. Olha dentro da cabine dupla.

– Não tem ninguém na traseira deste Foker.

Uma mão agarra a barra das calças de Nenê.

– Tem alguma coisa puxando minha calça. Oooops! – Nenê escorrega, cai sentado no chão.
– Nenê? Peraí, me dá a mão! – Vivi salta o balcão, corre para auxiliar Nenê que começa a gritar. Arrastado para debaixo do veículo.

– Que porra é esta? Tão mordendo minha perna. Arranhandooooo. Aaaaaaaah!

Nenê some embaixo do carro, perdido entre escombros da parede demolida. Vivi ouve um rosnado profundo e som de mastigação.

– É ela! – Diz o homem ferido. Minha esposa, é ela. Está louca. Eu ia leva-la ao hospital.

– O que você tá querendo dizer? – grita Vivi – ela pegou Nenê. Tá matando ele a dentadas?

Do fundo da caminhonete, dando a volta por trás, Nenê reaparece. Mutilado. Perdeu dois dedos da mão esquerda. As pernas sangrando, a calça em frangalhos. Segue na direção de Vivi. Logo atrás, no seu rastro, vem o cadáver que um dia foi a mulher do motorista. Rosto desfigurado pelo impacto da colisão do Foker, com parede de tijolos. Pernas retorcidas. Bacia deslocada.
O motorista agarra uma garrafa de cachaça, toma um gole, quebra a garrafa na quina do balcão. Segurando a garrafa pelo gargalo, usando-a como arma de defesa pessoal, diz:

– Por favor, ajudem minha mulher.
– Ô desgraçado. Se aquilo ali é tua mulher, eu quero ser mico de circo. Aquela coisa ali está morta. Pra mim, só pode ser um Exu. – Fala Nenê aos prantos.

Vivi ampara Nenê, levando-o na direção do amplo banheiro do bar. Entra com ele no banheiro, trancando bem a porta. Lá fora pode-se ouvir o som de luta. Grunhidos e berros. O motorista do Foker dá um lancinante grito de dor. Depois, siléncio. Rosnados, som de mastigação.

– Agora já sabemos quem levou a melhor lá fora. – geme Nenê – o que está acontecendo? Será o fim do mundo?

Vivi, concentrada em lavar os ferimentos do amigo na pia. Sem pensar direito diz:

– E logo hoje, que eu ia arrochar você. Merda!
– Eu sabia!
– Não é nada disto, Nenê.
– Eu sabia. Que tu é afim de mim.
– Somos amigos.
– Melhor, sermos amantes.
– Pô Nenê, nem todo estourado você larga do meu pé?
– Você ia me arrochar hoje mesmo?
– Calaboca Nenê! Tu já ta me dando nos nervos!

Nenê desmaia. Pancadas começam a ser dadas na porta. Vivi arrasta um armário de ferro usado para guardar material de limpeza reforçando a barreira. Ainda bem, que eu mandei as meninas pra casa da titia pensa Vivi. Nenê começa a estremecer nos estertores da morte. Nenê ressuscita.

– Nenê? Que foi? Por que você ta me olhando deste jeito? Nenê? Aaaaaaaaaaai! Não Nenê! Não! Eu disse não porra! Aaaaaaaie! Você tá doido?

A última coisa que Vivi pensou antes de morrer, foi:

“ Este filho da mãe, tá me comendo mesmo.”




Fim

Um comentário:

  1. Muito Bom! Kkkkk. Este final foi excelente! E Naum eh q ele (Nenê) consegui realizar seu sonho.

    Eita gu1le, vc eh louco cara!

    ResponderExcluir