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segunda-feira, 18 de março de 2013

Santos Afrikâneres e Palafitas

“Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações terá sido mera coincidência”





Título: Santos Africâneres e Palafitas


Vocês não entendem. Vocês não querem entender, e acho isto maravilhoso. O mundo que desdobra-se ao seu redor, dentro de vocês é informação. Todas as vossas atitudes são conseqüência – processamento – do modo que a informação é apresentada. Pode-se dizer que todo o seu universo, o universo que seus olhos cegos e suas mentes seletivas são capazes de reduzir é apenas propaganda. As vossas vidas são um “tour de force” emocional. Nela – na emoção – os fatos são apresentados de forma seletiva por vossas mentes às suas almas. Um exagero que semeia respostas emocionais adequadas a nós os demónios. Sigam-me. Eu vou lhes mostrar o jeito que as pedras rolam. Creiam em mim. Eu sou fidedigno.

De longe já dava para sentir o cheiro nauseabundo, lento, indolente. Cheiro prenhe de miséria, dor, doença e morte. Gosto disto. Muito me agrada. A minha casa agradece. Os portões do inferno cintilam, pulsam emanando velozes vapores esverdeados, amarelo-desbotados em júbilo pela decadência que esta tua terra é capaz de produzir.
Se eu sou sujo? Não, eu não sou sujo não. Até queria, mas sujidades em mim são inúteis. Desaparecem em instantes sem aderir, pois eu sou [papaimonstro] nunca fui dado à luz. Ninguém me pariu. Monstros como eu, são conjurados com poeira de estrelas, matéria escura e forças que a física quântica ignora.

Muito perto estou desta interminável favela de palafitas africâner. Observo do alto num terraço de adobe. Ao redor do prédio, as ruas irregulares esvaziadas das barraquinhas de lona, recendiam a peixe e legumes estragados, longe de serem deslumbrantes como as feiras fenícias, a feira de quarta-feira de Khayelitsha é a prova cabal de que a involução vigora. Observo no topo do predinho cônico, irregular. Um pardieiro lascado de bala, salpicado de sangue, caiado de branco e bosta. Daqui posso ver as palafitas - caixotinhos equilibrando-se sobre palitos de dentes - enquanto a maré enche. No horizonte poluído, o mar raso, rançoso e esbaforido afoga um sol doente vermelho sangue. A luz solar me ofende, ergo meu manto cinza, encontro aconchego em sua trama. Envolvido, agacho-me perto da mureta do terraço que dá para o poente. Perdendo-me em sua pequena sombra, fecho os olhos. Para dentro me expando, minha natureza toca os abismos. Quando isto acontece, um silêncio caótico me abençoa. Abro os olhos. O sol agonizante foi-se. Chegou a hora de uma pequena inversão térmica... Lá vem ventando o vento do alto mar. Vento putrefato de esgotos explodidos cinco quilômetros mar adentro e mesmo assim para meu, seu e nosso deleite; 16 milhões de pessoas executam a dança macabra da vida, correndo de braços abertos para a morte bem aqui na minha frente, equilibrando-se em contêineres - latas de óleo vegetal aplainadas remendam paredes impossíveis de existir quanto mais serem emendadas - equilibrados em palitinhos de dente.
Meu destino neste inferno é uma criança. Não, não vou matá-la. Quem mata é vocês, nós só queremos auxiliá-los a exercer sua liberdade trabalhando no que gostam e sabem fazer de melhor. Vim aqui, para uma difícil extração. Realocar a criança. Tenho grande interesse nela. Sabe como é né? Investimentos a longo prazo... Difícil será livrá-la deste mar de hepatite e colocá-la a salvo em outro mundo. Provavelmente os Santos Penitentes não vão deixar. Esta favela é um labirinto espiral complexo. Existem muitas forças em ação neste lugar. Elas disseminam-se pelas travessas, pinguelas e becos. Vejo seus rastros e suas diferentes cores brilhando na noite que agora domina a paisagem. Longas sanguessugas são elas. Embaçadas de uma luz mortiça, arrastam-se pelos caminhos, trastes e trapézios apodrecidos desta cidade esquecida, insalubre e perdida.

Sou capaz de feitos hercúleos em troca do que para vocês, seria ninharia. Posso arrastar um ônibus e atira-lo de uma ponte, apenas para esmagar uma única flor - uma rosa de Nova York especificamente falando – em detrimento de todas do jardim. Estou aqui por este menino. Por causa dele, invadirei este antro interminável na Cidade do Cabo. E ele haverá de provar delícias que distorcerão sua alma. Seus desejos mais profundos com o passar do tempo, - tempo este extremamente curto - hão de tornarem-se bestiais malignos e insanos. Escurecerá não emitindo mais nenhuma luz, pois, sua luz me deixa atarantado e quando a hora apropriada chegar, ele será meu anticristo do mês. Meu apocalipse de verão. Será tudo, destruirá tudo apenas por uma estação. Depois, como a maioria dos seres terrestres, meu messias engendrará dentro de si a semente de sua própria destruição; e nesta hora legitimamente minha o confrontarei. Desmascarado; se verá face a face com o inferno que criou, neste ponto sendo poderoso, escuro como as noites de lua nova, marcado por incontáveis cicatrizes de batalha eu [papaimonstro] devorarei sua alma suculenta. Farei vitaminas com seu sangue. Comerei seu corpo fatiado no café da manhã com pão branco e chá gelado. Seus ossos darei para os vermelhos vermes malditos que guardam minhas masmorras. Mas chega de devaneios, chega de propaganda. Vamos invadir. Vamos?

Início da noite, Khayelitsha, Cidade do Cabo. Aqui é periferia da África do Sul. Aqui o buraco é mais embaixo. Uma terra de muitos deuses. Terra de deuses muito antigos. Quem são estes Deuses? Isto é fácil de esclarecer. Shango ,Bumba, Elegua, Obatala, Abassi, Olorum, Yemaya, Anansi que é trapaceiro e vigarista e por fim, os semi-deuses. Os impiedosos Orishas. Mas não pára por aí não. Existem monstros e demônios como eu também. Aigamuxa anda comendo carne por estas bandas. Duolai conhece esta área profundamente. Katavi, Macardit... É, a família é grande e vive super ocupada. Trampo, trampo, trampo! Business is business!
Semi-deuses, Aigamuxa, Duolai, Katavi e Macardit... Com estes, todo cuidado é pouco. Ando faminto. Sou aventureiro. O que posso fazer, além de perseguir meus objetivos?
Subo na mureta do predinho de adobe. Ás minhas costas, sinto nascer o luar. Magnético luar. O breu do céu, é perturbado por miríades de estrelas e um vento insuportavelmente fresco vindo algures não sei de onde, infla as dobras do meu manto cinza. Acendo um querubim com um isqueiro que parece um maçarico. O querubim estremece mas não reclama. Inalo profundamente, depois exalo sua essência perfumada. É sândalo, cravo da índia, dama da noite, menta e jasmim com gosto de anjo. Lá se vai para a estratosfera meu lindo querubim. Ah, como eu adoro destruir coisas lindas. Palidamente, estico os braços minhas mãos morenas absorvem o luar. Meus braços estão envoltos com tiras de tecido negro parecido com algodão cheirando a alecrim. É áspero, espesso, impermeável á prova de fogo e envolve todo meu corpo. Por cima deste revestimento, uso uma calça jeans surrada, joelheira de kevlar, cotoveleira de kevlar. No tórax, um colete grosso de couro. O colete é ashar, armadura muito eficiente feita de vermes do fogo. Uso uma boina preta. Boina de malandro. É claro. Sou malandro. Da mureta no alto do prédio, dou um piparote no querubim – e ele, num raio de luz suicida-se no oceano sujo. Lanço-me no espaço. Salto alto cortando o ar. Vejo as luzes Khayelitsha a interminável, vejo a lua refletida nas águas escuras do mar e aterrisso com raiva no chão afundando paralelepípedos na beira do cais. Concluo o resto do percurso correndo.
Em frente a uma das muitas entradas desta favela, vejo dois homens. Peões magros e fortes, com aparência de estivadores aproximando-se. Parecem ser dois amigos, parecem estar a conversar, parecem ser moradores da interminável. Dou lhes as costas e passam por mim sem me dar atenção. Ao passarem, não percebem quando mergulho em suas sombras que se arrastam fielmente às suas costas. O que era uma dupla, agora, torna-se um trio. Saindo de cena, explicarei agora às suas mentes o que seus corpos devem fazer.

Abner e Skwint
Eram estivadores, eram amigos. Nasceram e cresceram na Interminável. Ninguém é inocente.
Após a entrada da favela, acabam-se as pedras pisadas do cais. Agora as ruas são de água, ou apenas passarelas sustentadas por velhas colunas de concreto. Outras tem caminhos mantidos por postes de madeira tratada, fincados no leito marinho. A iluminação, assim como a água, vem em parte da administração da Cidade do Cabo e por outra parte – a maior parte – de gatos feitos em cabos submersos. O mar é um caldo intolerável.
Abner:
– Skwint, me dá um cigarro.
– Voltaste a fumar desde quando, Abner, seu tolo?
– Ah, pare com isto. Estou me sentindo agitado. Não me venha com esta de mãe, que a minha afogou-se há uns tantos anos atrás e tu sabes muito bem.
– Como não, quase fomos juntos para a pira ao tirá-la do mar. Foi na região do Little Shark se não me engano.
– Eh! Skwint, chega de recordações! Estou cansado e não tenho tempo para isto. Izaa me espera. Uma bebida e um cigarro, conte uma piada se quiser, depois vou para casa me lavar e dormir.
– Com a minha bela irmã Izaa, não é Abner?
– Skwint, não me provoque. A única coisa boa que "O Deus" te deu, foi Izaa. Sem ela, tu estaria morto há tempos.
– Abner, o mesmo pode ser dito a você, sua lampreia descoordenada.
Tudo pára... Silêncio. Sopra o vento. Ouve-se o som da água colidindo em palitinhos de fósforo.
Encaram-se. Medem-se. As pessoas próximas, observam atentas de suas janelinhas. Crianças aproximam-se com cautela. Trocam uma seqüência de murros curtos, rápidos e velozes como raios. O som dos golpes parecem árvores despedaçando-se. Num segundo tudo acaba e estão abraçados rindo a valer. As crianças aplaudem. Vizinhos sorriem. Partem rumo ao pirata Jingle, boteco mais alto desta parte da interminável.

Pirata Jingle não é apenas o boteco mais elevado desta parte da interminável. É uma fraternidade baseada em qualidades admiráveis. Pirata Jingle, está mar a dentro sobre um entroncamento. Sobre uma junção de tubos e canos muito especiais. Lá em baixo dele, passam tubos cheios de petróleo, dutos repletos de gás natural, cabos de fibra ótica, cabos de redes elétricas e redes distribuição de água. Entendem? Pirata Jingle, dentro de sua humildade é uma máfia que controla – de certa forma – as bases do poder em grande parte da África. Para se fazer a manutenção de tudo naquela seção de transmissão; há de se pedir permissão a Jingle. Quando há guerra na interminável e uns e outros querem explodir tudo a quem recorrem? Isto mesmo. Correto! Recorrem a Jingle. Quando os poderosos querem um boicote aos preços baixos do petróleo, gás, luz e água; a quem eles recorrem? Isto mesmo. Corretíssimo. Acertou de novo. Pirata Jingle. Eles são máfia não gangue. Abner e Skwint criaram-se nas cercanias do Jingle.
O boteco, não passava de dois de dezesseis caixotes amontoados que formam o complexo Jingle. Tudo na interminável é amontoado. Eram dezesseis contêineres de quarenta e oito metros quadrados cada, ou seja, oito por seis metros apoiados alguns lado-a-lado ou uns sobre os outros. Às vezes os superiores, eram ancorados aos inferiores por cabos de aço ou correntes. Os contêineres inferiores apoiavam-se em pilares de concreto que se esticavam dez, vinte, trinta metros para baixo até cravarem-se no leito marinho e se projetavam dez vinte metros acima do nível do mar.

O complexo Jingle era a seu modo; uma maravilha da engenharia. Engenharia informal e arquitetura clandestina. Diversos operários, pedreiros, estivadores e trabalhadores de plataformas petrolíferas filhos da interminável, moradores da vasta área que Jingle comandava, deram suas vidas para que o complexo fosse concluído e se sustentasse. Morreram satisfeitos acreditando em seu trabalho sem reclamar. A Jingle possuía sua base. A comunidade iria prosperar. Esta era a crença daquele povo, não adiantava discutir. A um alto custo de vidas, Jingle existia e firmava-se naquele próspero ponto estratégico.
Abner e Skwint, caminhando de passarela em passarela foram galgando passo-a-passo, estágios mais elevados na direção do boteco Jingle. Cruzavam postos de controle, barricadas, pontes levadiças estreitas onde por baixo cruzavam barcos, lanchas, veleiros pequenos navegados por homens humildes e milionários que percorriam observados de perto, as ruas de água no domínio de Jingle. A lua mansa iluminava o céu e eu estava dentro deles, mexendo em seus fios, desconectando uns feixes de nervos aqui, conectando outros acolá. Moldando o cristalino de seus olhos. Abrindo e fechando portas em seus cérebros. Cavando buracos.


O Boteco

Favela de palafitas Khayelitsha a interminável, complexo Jingle, módulos 1a/16 e 2a/16 “O boteco”, setor domínio da Jingle. Quantitativo: estimativa 4.000.000 de membros ativos. Quadrante nobre base. Acesso principal.

O ar noturno, salino e iodado lhes desobstruía as vias nasais. Ao longe, viam-se os fogos de diversas plataformas de petróleo, espalhadas no horizonte varrido pelo luar. Helicópteros circulavam entre elas e pelo menos um, vinha em direção do heliponto situado no contêiner mais alto da Jingle.

Abner e Skwint, estavam relaxados e alegres como sempre ficavam, ao acessarem os recintos apinhados do boteco. Lá havia de tudo. Tinha muito, tinha para todos e para todos os gostos sem exceção. Só bastava ser membro. Só era preciso ter nascido na barriga daquela miséria. Abner agora intuía – Só era preciso ter perdido seus pais para o mar em nome da Jingle – acertadamente. Desmascarada a singular plenitude da miséria, o que restava era apenas morte.

– Abner, lembrei de uma coisa legal – diz Skwint – Um boteco de seis por oito não dá para muita gente é o que sempre me dizem os “de fora”.
– Quem diz isto, é ignorante. Não conhece nada de engenharia e arquitetura, que foi a praia da rapaziada das antigas que derramou seu sangue por aqui.
– É. E tem as parte submersas...
– Skwint eu me lembro muito bem quando era menino, cada um dos dois contêineres que compõe o buteco foram moldados na parte de baixo como submarinos e na parte de cima como quartel. São contêineres de seis por oito com altura de um prédio de quatro andares subdivididos por mezaninos. Isto é o que me lembro. As reformas que vieram posteriormente, nem eu nem você sabemos, pois estávamos na guerra. Hoje em dia, só acessamos a ponta do iceberg.
Uma linda atendente, Moira, morena clara em trajes sumários e refrescantes passa por eles, segurando um carrinho suspenso por cabos. Olha para Skwint com um sorriso ofuscante e diz:
– E aí moleque, cerveja, uísque ou rum?
– Ai, ai, ai, ai... Ta vento Abner? Ta vendo, como ela hoje tá ousada? Parece as negras da feira.
– Moira, pega leve que ele hoje está muito ciumento.
– Hmmm... Interessante, diz Moira fazendo beicinho – um sorriso levado atravessa seu rosto – E o que é que acontece com meu neguinho mais lindo do gueto? Chateado com a Moira, ou querendo deixá-la? – Servindo lhes doses de uísque, rum e cantis gelados de cerveja.
Nada não Moirinha. Eu só me preocupo com minha família. Com as minhas meninas – admite Skwint – deixa Abner e eu terminarmos este trago e vá se arrumar para irmos embora pra casa, ok? Da cidade, enviei uma surpresa para nossos pequenos e eles devem estar ansiosos para abrir.
– Ok, neguinho brother. Também estou só o fiapo. Meu turno foi longo. Segurem as pontas aí, que passo uma água no corpo tiro este rímel e a gente salta pra noite de lua. – responde Moira, tomando a dose de rum de Skwint. Sua primeira dose do dia.
– Ah, como ela é óptima – suspira Abner – eu amo ela.
– Hmmpft! – resmunga Skwint – Quem a ama sou eu capitão, você já tem a sua.

De um dos estreitos elevadores laterais, surge um menino de no máximo doze anos, usando roupas de mergulho todo coberto de petróleo. Dirige-se a eles.
– Capitão, sargento; saudações! – presta continência.
– Ei, ei, ei! Mark sujinho, olha o que está fazendo menino. Isto é jeito de vir aqui? Está emporcalhando tudo. – adverte Skwint.
– Calma sargento – comanda Abner – vamos ouvir o que Mark tem a dizer.
O menino um tanto constrangido, mal consegue lhes sustentar o olhar. Seu rosto, outrora relaxado começa a adquirir uma emocionada rigidez.
– Acabei de ser liberado do posto de guarda... – diz o menino num fiozinho de voz.
– Então agora pode nos tratar como civis, soldado. – responde Skwint com um sorriso.

Pai, você não vai acreditar como estão as parada lá em baixo pai. Muito andróide e ratazana escorpião. E abraça Abner, lambuzando-o de ouro negro.
– Ah, moleque... Toda vez é a mesma coisa. Eu voltando todo sujo para casa e sua mãe ralhando com a gente. Um dia destes ela nos mata.
– Só se for de mimo, pai. Toda vez que eu voltei ferido, virei neném de novo.
– Fora de serviço, filho, fora de serviço. No serviço, na guerra; os pais enterram os filhos. Compreenda. Eu não desejaria isto a ninguém mas, é assim que a banda toca. Claro que se depender de mim, você viverá eternamente. Isto põe em risco as operações. Assim sendo, estou na reserva, sou estivador. Izaa perdeu toda a família na guerra e eu também. Lutamos para alcançar este estado relativo de paz para você, em nome de seus avós. Skwint e eu não significamos mais nada. Instrumentos é o que somos. Queremos apenas proteger o desenvolvimento da sua geração. Você é diferente Mark. Muito mais do que pensa. Todos da sua geração são assim. Meta Jingle dada é meta Jingle atingida.
– Amo-te pai! – declarou Mark com lágrimas nos olhos.
– Também lhe amo Mark, meu filho. Antes não fosse assim. Sofremos demais. Muitos são os mistérios e perigoso é o nosso caminho. Meu destino fidedigno, é santidade e penitência. Quando você chegar aos dezesseis terei de deixá-los, como você sabe, assim como sabe também, que se viver o suficiente; terá o mesmo destino se for pai.
– Vamos deixar as histórias tristes para amanhã, meu velho pai. Mamãe nos espera. Você ainda não sabe, mas hoje tem festa e ela me disse que você nos levará para a plataforma Coolio. Disseram-me que você vai pilotar Massudo, o velho helicóptero bombardier que você tanto gosta pai. Só a diretoria.

Capitão aviador Abner assentiu. Imaginava que Izaa tinha alguma carta guardada na manga, e não se ressentiu com o filho por sua ingenuidade. Por sua juventude, que não o permitia compreender, que uma parte dele estava morta e ansiava pelo retiro seguro, que o caminho dos santos penitentes lhe proporcionaria. Seu desejo por ações objetivas, que interferissem imediatamente nos destinos da guerra era avassalador. Mas, não era apenas isto. Era a certeza de que, morrendo pela causa, abriria amplo espaço a Mark e Izaa e Skwint e Moira e outros da equipe. Espaço que lhes permitiria, seguir em frente e em segurança, por muitos e muitos anos.
Enquanto isto, inconscientemente uma pequena centelha de luz revolta, acendia-se dentro dele.

Alto mar, quarta feira, dez horas da noite. Massudo está no ar, levando dezoito tripulantes em direção a fantástica plataforma Coolio. Noite clara de lua cheia. Estrelada. Riscada por satélites e cometas.Temperatura dezenove graus.

– Pilotando com segurança e eficiência o velho helicóptero bombardier, Abner sentia-se pleno. Com o apoio de sua equipe sentia-se invencível. Preocupava-se com Mark seu menino e eficiente co-piloto, verdade mas, nem mesmo numa noite perfeita como esta; tudo pode ser exactamente como julgamos apropriado.
Izaa, mãe de Mark e Skwint, tio de Mark ocupavam seus postos ofensivos nas laterais do helicóptero, presos a cabos de segurança trajando seus sofisticados uniformes para-militares camuflados. Usavam coletes, capacetes, infra-vermelhos e grandes fuzis. O resto da tripulação, debatia tranqüilamente os acontecimentos do último trimestre, enquanto Moira com o dedo próximo a um botão vermelho, varria o mar com satélites e radares.





Obs.:
Este texto foi revisado, corrigido e ampliado para este desafio. O primeiro texto se encontra em textos de monstro juntos com outros textos do [papai monstro] aqui na toca.

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